domingo, 18 de maio de 2008

Andebol - Entrevista a Aleksander Donner

"Não tenho perfil para treinador do Benfica"

No final do jogo de ontem, em que devolveu o título ao Benfica, parecia estar triste e disse que se sentia traído. Por quem e por que razão?
Não é bem assim. Estava feliz, entusiasmado, mas cinco/dez minutos depois lembrei-me que a festa já não era para mim. E foi nessa altura que os jornalistas me chamaram e que eu disse isso. Não vou dizer nomes, não é correcto. Mas foi gente do Benfica, naturalmente. Sinto-me traído, porque até Dezembro, altura em que o Fernando Tavares deu aquela entrevista ao vosso jornal, disseram-me sempre que só faltava assinar para renovar. Em Janeiro, comecei a perguntar se sempre ficava. Para o caso de não ficar, ter tempo para procurar clube. Do Dínamo de Astrakhan, ligavam-me todos os dias, e havia outras propostas, mas sempre disseram para não me preocupar, que era tudo uma questão de dias. Não tenho nada contra o Benfica, nem contra a decisão, só acho que me deviam ter dito mais cedo, em Janeiro, pelo menos Fevereiro, para eu ter tempo. Dizer em Maio não é correcto.

Disse também que se ia dedicar às obras, tal como o haviam aconselhado. Quem o aconselhou a isso?
Isso foi na polémica do ano passado, no "play-off", quando eu disse que não concordava com a fórmula de disputa. Na altura, o presidente da Liga disse que quem não gostava, como o Donner, podia ir trabalhar para a pedreira. O que é ridículo é que depois acabaram por mudar para... como eu dizia.

Disse ainda que precisava de três anos para levar o Benfica ao título. E cumpriu…
Mas, para mim, o primeiro ano não conta. Era a equipa que o Benfica tinha, e dela só ficaram o Cláudio Pedroso e o Edgar Madureira. Na realidade, trabalhei dois anos com os jogadores que escolhi. Desses, no primeiro chegamos às meias-finais da Liga e ganhámos a Taça da Liga. Este ano, ganhámos a Taça Presidente da República e o título.

Perante isso, e não ganhando o Benfica o campeonato há 18 anos, e tendo quebrado, no ano passado, na Taça da Liga, com um jejum total de 13 anos no andebol, como entende a saída?
Acho que é por causa do meu carácter. Sou uma pessoa que diz o que pensa na cara… Ouvi do director que não tenho perfil para treinador do Benfica. Não sei qual é esse perfil, mas o meu não presta. Dizem que o meu comportamento no banco não é bom. É só isso, não há mais explicações. Aos jogadores, proibiram de falar com o jornalistas, e dizem sempre que ainda não chegou a hora para falar sobre mim.

Como se sente nesta situação?
Já tenho uma certa idade, e, para mim, três anos não é como para um treinador novo. Esta situação é pior do que uma pedreira. Foram muitas noites sem sono e dias sem comer, sem apetite, com a cabeça virada apenas para os jogos. E esta equipa ganhou o título, e agora tenho de deixar o meu trabalho. Ganhar o título é difícil, mas isto era só o princípio, pois no ABC ganhei o primeiro título e… mais sete. No Madeira, foi diferente, mas porque fui eu que quis sair, atraído com o que me contaram os directores do Benfica, com o projecto que me apresentaram. Agora fiquei com o título, mas sem trabalho.

O facto de lhe terem anunciado que não iria continuar ainda nas meias-finais do "play-off" dificultou mais a tarefa?
Claro que sim. A equipa são 16 pessoas, e não são todos meus grandes amigos. Alguns podiam ver-me a falar, mas, sabendo que eu me ia embora, já não trabalhar da mesma forma. Isto é lógico! Claro que foi mais difícil, mas, com o apoio de todos os jogadores, uns mais do que outros, pois não tinha nenhum inimigo, acabámos por conseguir. Os rumores de que eu tenho problemas com os jogadores saíram de gente que me queria mandar embora e não sabia como o explicar. Não tinha como o justificar.
Fonte : Jornal "O Jogo"

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