domingo, 9 de janeiro de 2011

Andebol Artigos Técnicos - Aprender o Retorno Defensivo na Iniciação ao andebol

Texto de Lucas Leonardo – Bacharel em Treinamento Desportivo e Licenciado em Educação Física

Também disponível em http://pedagogiadohandebol.wordpress.com/

Caros colegas, venho por meio deste artigo, descrever algumas etapas possíveis de serem construídas para a aplicação do conceito de retorno defensivo dentro de um modelo de jogo (ou seja, como uma cultura de equipe, que não depende de acertos tácticos ou estratégicos, mas que está incorporada dentro das construções colectivas da equipa). Ressalto a questão do modelo de jogo e da aprendizagem como algo cultural dentro da equipe, pois dentro do que venho lendo e estudando sobre a aplicação da inteligência táctica dentro do ambiente de jogo, falar como a equipe deve fazer o retorno defensivo não basta, se esses conceitos não forem sistematizados dentro de um processo de ensino aprendizagem.

A fala na prelecção: “quando perdermos a bola você marca essa, você abafa o goleiro e você volta para a defesa”, por exemplo, não basta para uma boa aplicação prática. Logo, construir um modelo de jogo é necessário para que algumas referências de jogo estejam intrínsecas ao jogar colectivo. Dessa forma, esse artigo será bastante ilustrativo, buscando descrever pedagogicamente uma sequência de jogos muito úteis para a construção do “jogar colectivo” dentro de um modelo de jogo da equipa, tendo como ênfase o retorno defensivo.

Conceituando Retorno Defensivo: Retornar defensivamente é antes de tudo uma atitude individual, que ocorre em fracções de segundo que antecedem o momento da perda da posse da bola, caracterizado, portanto, como uma atitude antecipatória que pode ter por características a execução de quaisquer um das três referências operacionais descrita por Bayer (1994): (i) recuperar a posse da bola; (ii) impedir a progressão adversária; e/ou (iii) proteger o próprio alvo.

Destaco que seja uma atitude individual pelo fato de depender, primeiramente, da capacidade do aluno/atleta em compreender a importância de envolver-se nesse momento de transição defensiva.  Apenas após a encarnação individual desse conceito é que se podem estabelecer atitudes grupais e colectivas para desenvolver estratégias agregadas ao modelo de jogo da equipe no tocante à transição defensiva.

A Aprendizagem do Retorno Defensivo na Iniciação Desportiva

Particularmente, considero que  nas idades iniciais deve-se estimular, sem restrições, a busca pela recuperação imediata pela recuperação da posse da bola, desmistificando tradicional ideia da composição da barreirinha (estereótipo da defesa 6×0, plenamente usada nas idades iniciais como mera cópia dos modelos adultos), valorizando aquilo o que as crianças nas idades iniciais (entre 7 e 12 anos) têm de bom: querer ter a bola a todo o momento.  Logo, abaixo seguem alguns modelos de jogos que podem ser utilizados nas idades iniciais para que os alunos já tenham amadurecimento básico para entender o que fazer quando perdem a posse da bola (seja pela recuperação da bola por parte da equipe adversária, seja pela tentativa de uma finalização):

Jogo 1: 3×3  – Passa 10 com estímulo à recuperação da bola (7 e 8 anos):

Regras:  Joga-se um passa 10 tradicional num espaço de 6m x 6m (fundo da quadra de vôlei). A equipe que realizar 10 passes primeiro ganha 5 pontos. Visando trabalhar o conceito de transição defensiva (ainda sem o carácter de retorno), a equipe que perder a posse da bola que conseguir recuperá-la completamente nos 3 primeiros passes da outra equipe ganha 1 ponto.

Análise Pedagógica:  Ao adicionar a regra voltada à recuperação da posse da bola nos 3 primeiros passes estimula-se a luta pela posse da bola imediatamente após sua perda, aspecto este que pode ser adoptado futuramente como modelo de jogo desses alunos.

Jogo 2: 5×5 – Passa 10 nas Zonas (8 e 9 anos): Regras:  Em um espaço de aproximadamente 20m x 10m (1/4 da quadra de handebol oficial, mas que pode ser adaptada em quadras menores para espaços de 18×9, 17×8 e etc..) monta-se 4 espaços quadrados (zonas) um em cada canto da mini-quadra e divide-se a quadra ao meio, criando duas metades.

O jogo acontece apenas em uma dessas metades da quadra, sendo que a equipe que tem a posse da bola deve procurar passar a bola para alguém que entre dentro de uma dessas zonas, sendo que cada passe ali recebido valerá 2 pontos para a equipe.

Após realizar o ponto numa meia quadra, a equipe que fez o ponto continua com a posse da bola e só poderá fazer ponto em uma das duas zonas da outra metade da quadra, tendo que ter todos os jogadores de sua equipe na outra metade realizando a transição ofensiva de todos os jogadores para a outra metade da quadra.

Se a equipe que fez o ponto conseguir transitar com até 4 passes para alguma das duas zonas da outra metade da quadra ela ganha além dos 2 pontos, mais 1 de bonificação.

Se a equipe que está sem a bola conseguir recuperar a bola na mesma meia quadra em que a outra equipe fez o ponto, ela ganha 1 ponto e se a equipe conseguir voltar com todos os seus jogadores para a outra metade da quadra antes que a equipe adversária faça um ponto com pelo menos 4 passes, ela retira o ponto de bonificação.

Análise Pedagógica:  Este jogo possui regrinhas que irão estimular inicialmente a busca pela recuperação imediata da posse da bola, mas já criará nos alunos constrangimentos que os estimularão a ter o timing relativo à compreensão do momento em que deverão deixar de tentar recuperar a bola e terão que retornar para sua quadra, a fim de dar menos pontos para a equipe adversária.

Jogo 3: 4×4 – Touchdown com Pressão e Retorno Defensivo (9 a 12 anos) Regras:  O jogo será realizado em um espaço de aproximadamente 20m x 10m, e se assemelha muito com o jogo anterior, porém agora ao invés de duas zonas nos cantos da quadra, será determinada uma área de touchdown (na qual a defesa não pode entrar), demarcada por uma linha que se estenderá de uma lateral à outra da quadra. A equipe que conseguir entrar com a bola dentro da área de touchdown ganha 2 ponto. Porém, se a equipe que sofreu o ponto conseguir  entrar na área adversária antes que pelo menos 3 jogadores adversários voltem para sua metade da quadra a equipe ganha 2 ponto pelo touchdown e mais 1 ponto de bonificação. Porém, se a equipe que fez o touchdown conseguir recuperar a bola no campo de ataque, logo após a marcação do ponto, a equipe ganha também 1 ponto. Ganha quem fizer 15 pontos primeiro.

Análise Pedagógica:  Trata-se de um jogo que valoriza novamente a recuperação imediata da posse da bola, porém, trabalha a atitude de retornar que será importante para a construção de modelos de jogo de transição defensiva futuramente. Porém, a regra trás um conflito peculiar – dos 4 jogadores, pelos menos 3 têm que retornar para evitar que a equipe adversária ganhe 1 ponto de bonificação e ao mesmo tempo, recuperar a bola ainda no seu campo de ataque vale 1 ponto, conflito este que deverá ser mediado pelo professor para que uma solução possa ser encontrada.

Toques Didácticos:  Devido a esse conflito, considero importante que para esse jogo venhamos a discutir alguns toques didácticos. O professor deve deixar que os alunos explorem bastante o jogo visando orientá-los para a construção de um modelo de retorno defensivo em que um dos jogadores fique no campo de ataque tentando recuperar a posse da bola enquanto outros três tentem retornar rapidamente para se campo de defesa.

Uma solução possível é criar regrinhas, junto com os alunos, que facilitem a definição das funções deles seria orientá-los, reunindo os alunos e perguntando: “Sabendo que apenas 3 jogadores precisam retornar para evitar que a equipe adversária ganhe o ponto de bonificação, um jogador irá sobrar. Na opinião de vocês quem deverá sobrar?”, as respostas podem ser as mais variadas, tendo como característica principal a ideia de que eles elejam algum aluno em específico para que não retorne. Você pode deixá-los explorar essa possibilidade e então reuni-los novamente: “Essa solução foi boa? Pensando que estamos numa aula, não seria legal que todos fizessem as duas funções, ora retornar, ora ficar no campo de ataque?” mediante essa questão, os alunos tenderão a numerar a ordem de quem fica e quem volta em cada ataque. Você como professor deve deixá-los explorar essa possibilidade para então voltar a reuni-los: “Pensando na distância que deve ser percorrida, quem é o jogador que fica mais longe do campo de defesa quando sua equipe marca um ponto?” a resposta de seus alunos será indicar o aluno que realizou o touchdown. Mediante esse apontamento, você pode ainda perguntar: “Se ele está longe, vocês acham certo ele ter que voltar para a defesa? Ele não irá ter que correr mais do que os outros? Isso não poderá atrasá-lo?” a partir desse apontamento, os alunos tenderão a definir que o aluno que sobrará será aquele que fizer o ponto.  Ainda sobre essa actividade um toque didáctico importante é criar uma série de questionamentos que apontem aos alunos a importância de que o jogador que sobra seja o jogador que tente recuperar a bola no campo de ataque, para que a equipe ganhe 1 ponto a mais.

Considerações Finais: Por se tratar de idades iniciais, a atitude individual deve ser o foco das actividades. Fazê-los compreender que após perder a bola cada jogador deve ter uma atitude voltada a algum das três referências do jogo apontadas por Bayer (1994): (i) recuperar a posse da bola; (ii) impedir a progressão adversária; e/ou (iii) proteger o próprio alvo; será um grande avanço no sentido da formação de jogadores inteligentes para jogar.

Considero importante, porém, voltar a frisar que em todas as actividades, nessa idade, o mais importante será estimulá-los sempre a ter, de alguma forma, estratégias individuais ou mesmo de grupo (para as idades entre 9 e 12 anos) sejam internalizadas pelos alunos para que futuramente eles não percam o valor dado a eles nessas idades de quererem ter a bola para si e para sua equipa, evitando que atitudes defensivas muito passivas sejam apresentadas futuramente.

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