Depois de ter representado o Madeira Andebol SAD como atleta Carlos Marques passou para a administração da colectividade, na tentativa de a recuperar e ter um projecto credível que desse outra dimensão. Em parte, tudo isto foi conseguido e, na última época, a equipa terminou o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão masculina na 2.ª posição (vice-campeão nacional) e um lugar numa competição europeia. Para a nova temporada (2010/11), a aposta recai somente em atletas portugueses, mas em nada os objectivos deixaram de ser ambiciosos, como explicou ao JM o administrador do Madeira SAD, Carlos Marques.
JORNAL da MADEIRA: Desde que está a frente da administração do Madeira SAD que balanço se pode fazer?
Carlos Marques: O balanço é extremamente positivo a vários níveis. A nível desportivo ,que é o mais importante e o que traduz a realidade do projecto, acabámos por atingir patamares de excelência, ao nível da reabilitação da SAD, enquanto que a parte económica acaba por se afirmar como um projecto credível, sinal claro de que o Andebol da Região está bem representado.
JM: Na sua opinião o clube está recuperado financeiramente, ou caminha para essa recuperação?
CM: Estamos caminhando para a sua recuperação. Eu costumo dizer que quem compra uma casa fica com a casa, mas leva alguns anos a pagá-la. O que acontece ao Madeira SAD passa um pouco por essa situação. Neste momento, temos uma gestão rigorosa, criteriosa, sem margem de erro, mas fruto desse rigor, hoje em dia, somos uma entidade credível e muitos dos problemas que existiam no passado já não existem. Contudo, é uma situação que tem de ser gerida de uma forma cuidada.
JM: Podemos concluir que em relação ao Madeira SAD os ordenados estão em dia, não há atrasos e as coisas cumprem-se com rigor?
CM: Daquilo que está determinado, da teoria para a prática, há questões que infelizmente não se conseguem cumprir. O Madeira SAD está, neste momento, muito melhor do que estava e, por vezes, existem atrasos pontuais, mas os jogadores têm plena consciência do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e acreditam no projecto.
JM: Depois de um título nacional, dois segundos lugares nestes últimos três anos, para onde aponta o Madeira SAD esta época?
CM: Vamos entrar num ciclo completamente diferente. É a primeira vez que temos o Madeira SAD só com atletas portugueses. Temos atletas que brilharam no Campeonato da Europa de Sub-20 e que nos dão alguma confiança. O andebol é um jogo colectivo e será necessário tempo para a construção da equipa. Penso que para a próxima época vamos andar no grupo dos primeiros. Já nos habituamos, a nível interno, de que os objectivos da equipa estão constantemente a ser reavaliados. Numa primeira fase, o objectivo é o apuramento para a Supertaça, que se disputa em Portimão, depois o projecto será reavaliado e então traçado outro objectivo.
JM: Porque esta opção de só ter no plantel jogadores portugueses?
CM: Acima de tudo porque, na minha opinião, o desporto em Portugal perdeu o comboio da alta competição. Fruto da rigorosa contenção financeira que tem de ser feita, não só ao nível do Madeira SAD, mas a nível geral, e a realidade é que, para nós, contratarmos jogadores estrangeiros que se traduzam como mais-valias temos de olhar para patamares financeiros que são incomportáveis para com este projecto. E entre ter atletas medianos ou atletas portugueses melhores que medianos, eu prefiro ter atletas portugueses.
Dois ou três anos para lutar pelo título
JM: A aposta no jogador português poderá ser um projecto para que daqui por dois ou três anos a equipa possa aparecer a discutir o título nacional?
CM: Sempre disse, desde que assumimos a administração do clube, que só fico descansado no dia em que formos campeões nacionais. Com a questão financeira completamente resolvida, acredito que dentro de dois ou três anos o Madeira SAD é claramente candidato ao título. Agora estamos numa fase reabilitação e temos atletas que irão ser, aos 19 anos, titulares indiscutíveis da equipa. Se olharmos para a sua margem de progressão, dentro de pouco tempo vão ser apostas do Andebol nacional e se conseguirmos manter esses atletas na equipa não vejo porque não lutarmos pelo título.
JM: Foi fácil chegar a acordo com jogadores como o Nuno Silva e o Miguel Ferraz para representar o Madeira SAD?
CM: Não, foi muito difícil. São atletas de selecção e aqui não é só a questão financeira, passa também pelos objectivos e pela mentalidade do Madeira SAD e por tornar credível o nosso projecto. Estes são atletas muito acompanhados, a nível federativo, e tenho a certeza absoluta que se o nosso projecto não fosse credível, a nível do Andebol, dificilmente e se calhar a própria federação não olharia com bons olhos a inclusão destes atletas no Madeira SAD.
Regresso às competições europeias
JM: O que espera da participação do Madeira SAD na competição europeia?
CM: Acima de tudo que leve, além-fronteiras, o nome da Madeira. Acabámos por ficar inseridos na competição mais difícil, pois estamos na Taça europeia onde estão todas as equipas que não conseguiram o acesso à Liga dos Campeões, assim como todos os segundos classificados dos respectivos campeonatos. Ou seja, são tudo equipas com orçamentos superiores, seis ou sete vezes, ao nosso. São diferentes realidades andebolísticas e agora temos uma excelente oportunidade de promover o projecto, de promover a Região e, se assim for, acho que é uma aposta ganha.
Orçamento ronda os 300 mil euros
JM: O orçamento do Madeira SAD aponta quanto por época?
CM: O nosso orçamento - efectivo - ronda os 300 mil euros por época. Acho que, às vezes, pedir um título nacional com esse valor, quando a realidade ao nível dos clubes grandes é três e quatro vezes superior ao nosso, é... demagogia.
JM: De qualquer das formas, com este orçamento, ficou à frente de equipas com outros bem superiores, como o Benfica e o Sporting?
CM: Acho que aí temos de dar os parabéns a equipa técnica e aos jogadores, pelo bom trabalho realizado na época passada, que nos levou a ficar no 2.º lugar. Vamos partir do zero para esta época
JM: Em resumo, está satisfeito com o seu trabalho na administração, com o trabalho da equipa e com esperança no futuro e na época que se aproxima?
CM: Nunca estou satisfeito com o meu trabalho e poucas vezes estou satisfeito com o trabalho da equipa. Conquistámos o segundo lugar, que foi uma posição brilhante, mas esta época estamos a partir do zero. Se calhar, no final da época, quando atingirmos os objectivos a que nos propusemos estarei satisfeito, mas é claro que não é fácil, mas também não é impossível de ser atingido.
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